Aviões poderão pousar (ou decolar) ao mesmo tempo no aeroporto de Brasília. Entenda

Com duas pistas operando independentemente,  aeroporto aumentará ainda mais sua capacidade operacional

Pouso paralelo

Dois aviões podem pousar  ao mesmo tempo no mesmo aeroporto? Teoricamente, não haveria problema. Bastariam duas pistas. Na prática, porém, esse pouso é ‘mais embaixo’.

Ainda que a moderna geometria analítica postule que as paralelas se cruzariam no infinito, até hoje não há melhor meio de pousar e decolar o maior número de aviões num mesmo aeroporto do que dispondo-o de pistas lado a lado. Ao menos, enquanto não se voar no infinito.

É o caso do Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek. Inaugurado antes mesmo da Capital Federal, em 1957, o aeroporto é um dos poucos do País detentor desse “layout” ideal para operar com pistas independentes: duas longas retas paralelas, distantes suficientemente uma da outra, ao alcance visual de uma Torre.

Não à toa, a partir de novembro desse ano, o “JK” iniciará a operação independente de suas duas pistas, viabilizando as chamadas operações paralelas simultâneas independentes, quando dois aviões poderão pousar (ou decolar) ao mesmo tempo do aeroporto.

Esse ganho de capacidade operacional é resultado de um amplo trabalho realizado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), destinado a otimização dos fluxos de tráfego na terminal aérea de Brasília com a implementação de novos procedimentos PBN (em português, Navegação Baseada em Performance) especificamente orientados às referidas operações. O aeroporto, aliás, será o primeiro de toda a América do Sul a poder pousar ou decolar aviões simultaneamente nessas condições.

Na prática, é como se houvesse dois aeroportos funcionando separadamente, uma vez que, a partir de então, cada pista terá suas três posições de controle na Torre, operando com auxílios a navegação aérea próprios.

Para compreender melhor as operações paralelas independentes num aeroporto, assista o vídeo abaixo que registra o pouso simultâneo de dois Boeings de grande porte ( Boeing 777 da Asiana Airlines, no primeiro plano, e  um 757 da United Airlines, no segundo) no Aeroporto Internacional de São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos.

A capacidade de pista do aeroporto de Brasília (pousos e decolagens por hora), que já vinha aumentando nos últimos anos, crescerá agora cerca de 30%. A partir de novembro, ela saltará dos atuais 60 movimentos aéreos/hora para 80 pousos e decolagens por hora.

Operações simultâneas em pistas paralelas são hoje uma exclusividade de grandes hubs internacionais e dos maiores aeroportos mundo. Os três mais movimentados do mundo – Atlanta (Hartsfield-Jackson), nos EUA, Pequim (Beijing Capital International), na China e Londres (Heathrow), na Inglaterra – transportaram só no ano passado 95, 86 e 73 milhões respectivamente – dados Airports Council International (ACI). Jamais alcançariam esses números se não operassem com pistas paralelas independentes que viabilizam uma elevação significativa de embarques e desembarques.

Na figura, aeroportos que operam pistas paralelas independentes no mundo. No hemisfério Sul, iniciativa ainda é recente. (Fonte: Skybrary)
Na figura, aeroportos que operam pistas paralelas independentes no mundo. No hemisfério Sul, iniciativa ainda é recente. (Fonte: Skybrary)

A novidade, escassa nos principais aeroportos do hemisfério Sul, aporta em Brasília e já é vislumbrada por outros administradores de aeroportos no País. Embora o movimento por aqui ainda seja menor (39 milhões de passageiros/ano no Aeroporto Internacional de Guarulhos – São Paulo, o maior do Brasil) a demanda é crescente e a necessidade de aumento de capacidade operacional, mandatória. Em Campinas, a Concessionária de Viracopos conjectura a implementação de operações simultâneas de pouso e decolagens no aeroporto com a construção de uma segunda pista. O mesmo pode ocorrer no novo aeroporto da região metropolitana de Porto Alegre, ainda em planejamento. Guarulhos, por outro lado, ainda não pode operar suas pistas independentemente. A distância entre as mesmas, na sua configuração atual, é menor do que a mínima requerida pela ICAO (International Civil Aviation Organization) – órgão da ONU regulador do transporte aéreo civil internacional, para executar pousos e decolagens simultâneos com segurança.

Na vista aérea do Aeroporto de Brasília, fica clara a disposição adequada de suas pistas a essas opérações: paralelas, suficientemente afastadas, ao alcance visual da Torre de Controle.

De todo modo, o aumento substancial de capacidade de pista em Brasília chega no momento em que o aeroporto se transforma cada vez mais num importante hub doméstico. Desde 2014, Brasília já transporta mais passageiros do que Congonhas e Galeão (cuja administração foi repassada a iniciativa privada muito recentemente). Ainda no ano passado, 8,1 milhão de passageiros utilizaram o aeroporto de Brasília como conexão para visitar outras regiões, sobretudo no Sudeste e o Nordeste. Os benefícios e ganho de capacidade provenientes do início das operações paralelas simultâneas independentes, somados à localização geográfica estratégica da Capital poderão, enfim, alçar o Distrito Federal como um grande centro de distribuição de passageiros entre o Norte e o Sul do País, estimulando a concorrência entre os “novos” grandes aeroportos do País.

Daniel Marinho
Jornalista