Entre pousos e decolagens: a segurança nas Torres de Controle brasileiras

Recentemente, um acidente envolvendo duas aeronaves no mais movimentado aeroporto do Japão (Haneda/ Tóquio) gerou comoção, diante da dramaticidade das imagens, e surpresa, pela rápida evacuação das 379 pessoas a bordo de uma das aeronaves.

Na ocasião, um Airbus A350 da Japan Airlines pousava no aeroporto quando colidiu com uma aeronave da Guarda Costeira japonesa, que então iniciava um procedimento de decolagem. Dos seis a bordo do avião menor, cinco morreram.

Alguns fatos trouxeram à tona questionamentos sobre a segurança das operações aeroportuárias: o que duas aeronaves (uma pousando, outra decolando) faziam na pista principal de Haneda no mesmo instante? Quais foram as orientações da torre japonesa aos pilotos? Como se deu a comunicação entre os pilotos e a torre?

Neste texto, vamos explorar a atuação das Torres de Controle de Aeródromo e a importância da observação de suas orientações pelos pilotos, destacando as práticas que garantem a segurança das operações.

A Torre de Controle de Aeródromo

torre de controle
Aeronave decola no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, sob a orientação da Torre do aeroporto. Foto: Fábio Maciel

A Torre de Controle de Aeródromo (também chamada de TWR – do inglês Aerodrome Control Tower) desempenha um papel fundamental na coordenação e segurança das operações aéreas. Situada nos aeroportos de maior movimento, a Torre é responsável pelo controle nas fases de decolagem, pouso e no taxiamento das pistas auxiliares de um aeroporto, incluindo o controle de viaturas e pessoas na área de manobras e, quando necessário, dos voos no circuito de tráfego visual do aeródromo.

Sua estrutura interna é organizada em diferentes posições, cada qual com uma função específica. As mais importantes:  Posição Solo, que gerencia a movimentação de aeronaves no pátio, coordena o taxiamento das aeronaves, por exemplo; e Posição Torre, responsável pelo espaço aéreo nos arredores do aeroporto, sobretudo nas ocasiões de pousos e decolagens, e pela coordenação do sequenciamento de tráfego aéreo.

A comunicação entre a torre de controle e os pilotos é decisiva para garantir a segurança num aeroporto de grande movimento. Utilizando radiofrequências dedicadas, os controladores fornecem informações essenciais, como autorizações para decolagem e pouso, condições meteorológicas, e instruções de tráfego, entre outras informações de segurança que se fizerem necessárias no trânsito das aeronaves pelo aeroporto, no pouso e na decolagem.

Autorizações de Pouso, Decolagem e Taxi

Movimentação na pista do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Foto: Luiz Perez

As autorizações de pouso, decolagem e taxiamento são baseadas em procedimentos rigorosos e comunicação objetiva entre a torre e os pilotos. Procedimentos padronizados, sistemas automatizados e fraseologia única, para os quais pilotos e controladores foram treinados, contribuem para a eficácia dessa comunicação. Os controladores consideram variáveis de condições meteorológicas, tráfego aéreo e disponibilidade da pista, para citar alguns exemplos, ao emitir estas autorizações.

Sistemas automatizados auxiliam também no monitoramento do tráfego aéreo e na identificação de potenciais conflitos. A incorporação de novas tecnologias de gerenciamento de tráfego aéreo, como, por exemplo, o TATIC-TWR, o DCL (Autorização de Tráfego via Enlace de Dados) e o radar de solo, permitem otimizar as operações com segurança, mesmo que diante de um elevado fluxo de aeronaves, o que ocorre atualmente em pátios de grandes aeroportos brasileiros, como os de Guarulhos, Santos Dumont e Brasília, por exemplo.

As autorizações de tráfego são processos críticos na operação de uma torre de controle de aeródromo, e sua efetividade está profundamente ligada à segurança operacional. Essas autorizações são concedidas em consonância com práticas de segurança, que visam assegurar a integridade do tráfego aéreo.

Segurança Operacional

A segurança operacional nas torres de controle é um alicerce crucial para a integridade e eficiência das operações aeroportuárias. Diversos princípios fundamentais norteiam as práticas visando garantir a segurança em todos os aspectos do tráfego aéreo. Para citar alguns:

Na Comunicação com a Aeronave

Antes de qualquer movimento significativo, os pilotos estabelecem comunicação com a torre de controle. Isso ocorre geralmente por meio de radiofrequências designadas para a torre.

A torre verifica a identidade da aeronave, confirmando informações como número de voo, posição na pista e intenções de movimento.

No Sequenciamento de Tráfego

A torre avalia a sequência de tráfego para garantir que a autorização concedida esteja alinhada com a segurança operacional e a eficiência do fluxo de tráfego.

São considerados fatores como a presença de outras aeronaves na área de controle, as condições meteorológicas e as prioridades operacionais.

Na Avaliação das Condições da Pista

Controladores monitoram continuamente as condições da pista, incluindo possíveis obstruções, presença de veículos em solo e condições meteorológicas.

Autorizações são concedidas levando em consideração a disponibilidade da pista e sua adequação para a aeronave que requer o movimento.

No Gerenciamento de Emergências

Procedimentos de emergência são estabelecidos para lidar com situações imprevistas, como interrupções de decolagem, necessidade de arremetida, ou outras contingências.

A rápida comunicação e ação coordenada são essenciais para garantir a segurança nessas situações.

No Treinamento Contínuo

Controladores e equipes de torre passam por treinamento regular para manter suas habilidades e estar atualizados sobre as melhores práticas e procedimentos de segurança.

Simulações e exercícios práticos são realizados para preparar as equipes para lidar com uma variedade de cenários operacionais.

É possível evidenciar que as autorizações de decolagem e pouso são concedidas com base em um conjunto abrangente de práticas e medidas que priorizam a segurança operacional. Para o chefe do Subdepartamento de Operações do DECEA, Brigadeiro do Ar André Gustavo Fernandes Peçanha, essa sempre será a prioridade.

“O uso de tecnologia de ponta, a capacitação especializada, os procedimentos padronizados, as práticas rigorosas de comunicação e o monitoramento constante são pilares fundamentais que sustentam a nossa abordagem. Do mesmo modo, a colaboração com órgãos reguladores e as auditorias regulares, bem como a análise contínua de indicadores e incidentes são parte integrante de nossos esforços para manter e aprimorar os mais altos padrões de segurança nas operações aeroportuárias. Estamos dedicados a garantir que o espaço aéreo brasileiro seja seguro e eficiente para todos os usuários”, afirma o Brigadeiro.

Operações no Brasil

O Brasil possui uma rede extensa de aeroportos, abrangendo desde grandes terminais internacionais até pequenas instalações regionais. Esses aeroportos servem como pontos cruciais de entrada e saída para passageiros e cargas, contribuindo significativamente para a conectividade do País.

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Controlador na Torre de Controle do Aeroporto de Congonhas. Foto: Fábio Maciel

Responsáveis por coordenar as operações em solo e nos arredores dos aeródromos, as torres de controle desempenham um papel vital na segurança e eficiência do tráfego aéreo. Ao todo, no País, 57 aeroportos possuem Torres de Controle operadas pela Força Aérea Brasileira (FAB), por meio do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Eles estão entre os mais movimentados do País, como os aeroportos de Congonhas, em São Paulo; do Galeão/Tom Jobim, no Rio de Janeiro; e de Brasília/Juscelino Kubitschek, na Capital Federal.

Há ainda a Torre de Controle Digital (D-TWR), localizada na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Primeira experiência de torre remota no País, na D-TWR Santa Cruz, a visualização tradicional do controlador foi substituída pela visualização de um sistema de vigilância, composto por câmeras de alta resolução e monitores, que proporcionam aos controladores uma visão panorâmica do aeródromo e de sua vizinhança.