Tudo sobre Controle de Aproximação (APP – Approach Control)

Ao falarmos de controle de tráfego aéreo, normalmente a associação à torre de controle é imediata. Não é para menos, ela que salta aos olhos dos passageiros no aeroporto.

Controlador operando as novas consoles SAGITARIO do APP-Rio de Janeiro (Foto: Fábio Maciel)

Ocorre que há bem mais coisas entre um pouso e uma decolagem do que se possa supor e uma delas é: a maior parte do controle aéreo não é exercido a partir de uma Torre, mas, sim, de outros órgãos menos famosos, como, por exemplo, o “Controle de Aproximação” (ou APP – Approach Control) e o “Centro de Controle de Área” (ou ACC – Area Control Center). Neste post, vamos falar sobre Controle de Aproximação (APP).

Portão de entrada e saída das aerovias

Em linhas gerais,  APP (Controle de Aproximação) é um órgão operacional que presta os serviços de controle de tráfego aéreo basicamente em três ocasiões do voo:

  1. Após a decolagem, quando a aeronave inicia os procedimentos de subida que a levarão a uma aerovia (voo de cruzeiro).
  2. Antes do pouso, quando a aeronave deixa uma aerovia (voo de cruzeiro) para iniciar sua descida rumo a um aeródromo.
  3. Aeronaves que estejam em trânsito, cruzando o espaço aéreo sob a jurisdição de um APP.
Controle de Aproximação - APP
Após decolar do Santos Dumont, o piloto encerra o contato com a Torre  e imediatamente entra em contato com o APP-Rio de Janeiro para dar início ao procedimento de subida. (Foto: Fábio Maciel)

Em outras palavras, excetuando os voos que somente cruzam a região, um APP lida com a fase intermediária entre a decolagem e o “voo de cruzeiro”, e, o caminho contrário, quando o avião precisa deixar a “estrada” (aerovia) para começar a descer.

Pois bem, este espaço intermediário tem nome. Na verdade, dois:

CTR (Control Zone) –  Zona de Controle

Espaço aéreo que abrange as trajetórias dos procedimentos de aproximação e saída dos voos por instrumentos, envolvendo um ou mais aeródromos. A CTR possui, na maioria das vezes, um formato cilíndrico, desde o solo até uma altitude variável. São representadas nas chamadas Cartas de Área (ARC –Area Chart), disponíveis no Portal AISWeb.

TMA (Terminal Control Area) – Área de Controle Terminal

Situada em regiões de grande densidade de tráfego aéreo, geralmente ao redor de aeroportos importantes, a TMA é um espaço aéreo controlado que abrange os acessos (chegadas e saídas) às aerovias. É uma área mais ampla que a CTR (pode aliás conter uma ou mais delas), abarcando todos os procedimentos de chegada e saída dos aeródromos nela inseridos.

As TMA também têm limites laterais e verticais variáveis e podem ser visualizadas nas cartas ARC, disponíveis no Portal AIS Web.  Para ilustrar observe, na figura abaixo, a ARC relativa à  região de Belém, no Estado do Pará. O epicentro das demarcações em círculo é o aeroporto internacional da capital paraense Val-de-Cans – Julio Cezar Ribeiro. O segundo círculo menor corresponde à CTR-Belém, espaço aéreo circular de 28 Km de raio, do solo a 2.500 pés (726 m) de altitude, abrangendo a circunvizinhança do aeroporto.

Já o círculo maior, com cerca de 110 Km de raio, dos 2.500 pés (726 m) aos 14.500 pés (4.5420 m) de altitude, representa a TMA-Belém, espaço aéreo mais amplo que não abrange o solo. Reservado às subidas dos aviões após a decolagem, às aproximações para pouso ou, eventualmente, ao cruzamento de aeronaves que voam em baixa altitude na região..

Controle de Aproximação - APP

E o que se faz dentro de um APP?

Um APP (Controle de Aproximação) presta os serviços de controle de tráfego aéreo e de informação de voo às aeronaves que voam dentro de uma TMA ou CTR. Este trabalho tem por objetivo:

  • Manter as separações mínimas entre os voos estabelecidas pelo órgão regulador (DECEA) por critérios de segurança e eficiência.
  • Disciplinar, acelerar e manter ordenado o fluxo de tráfego aéreo.
  • Orientar e instruir as aeronaves na execução dos procedimentos de espera, saída e chegada, estabelecidos pelo DECEA.

Em condições ideais, o APP deve viabilizar às aeronaves que partem um rumo com o menor número possível de curvas,  manobras e restrições até o nível de cruzeiro. Da mesma forma, a intenção é prover às aeronaves que chegam os procedimentos mais rápidos e simples.

A ordenação eficaz, segura e sustentável desses voos, porém, requer um monitoramento criterioso e em tempo real não só de aeronaves, mas das inúmeras variáveis que impactam essa circulação. Afinal, há uma conjunção de fatores, condições e protocolos a serem observados para um voo seguro. Fenômenos meteorológicos adversos, demandas de voo urgentes, situações de emergência, voos alternados, mudanças climáticas repentinas, aeroportos fechados para pouso e decolagem, redução ocasional de capacidade operacional, esteiras de turbulência… São inúmeras as contingências que podem impactar à aviação.

TMAs e CTRs dos arredores de Rio de Janeiro e São Paulo, ilustradas em uma carta aeronáutica

De todo modo, um APP lida com os procedimentos de navegação aérea básicos de uma TMA/CTR, tais como os de:

–  Chegada por instrumentos – STAR – Standard Terminal Arrival
–  Descida por instrumentos – IAP – Instrument Approach Procedure
– Saída por instrumentos – SID – Standard Instrument Departure
–  Aproximação perdida MA – Missed Approach

É também  sempre bom lembrar que, apesar do nome, o “Controle de Aproximação” atende naturalmente a qualquer aeronave em sua área de responsabilidade, estejam elas se aproximando do aeródromo ou não.  Estas áreas (TMA ou CTR) costumam a ter como centro, o aeródromo mais movimentado de uma grande cidade ou capital que, então, empresta o nome a seu APP: APP-Belo Horizonte; APP-Manaus; APP-São Paulo; APP-Fortaleza; etc. Não à toa, todas as capitais das 27 Unidades Federativas do País (incluindo o DF) tem um APP para chamar de seu. Outras cidades, entretanto, que dispõem de uma concentração elevada de movimentos aéreos também dispõem do Controle.

No Brasil há atualmente 42 APP: 28 sob a responsabilidade do DECEA, 13 com a Infraero e 1 sob a responsabilidade da Marinha. Eles estão distribuídos em todo o Brasil e atuam sobre 40 Áreas de Controle Terminal (TMA) e  2 Zonas de Controles (CTR). Veja na figura abaixo, o mapa das TMA brasileiras.

Fonte: CGNA

Ao longo de todo o ano de 2016, mais de 2,5 milhões de voos passaram pelas TMAs brasileiras. Cerca de 1/3 desses voos couberam somente às duas TMA mais movimentadas do País: São Paulo e Rio de Janeiro. Em seguida vêm as grandes capitais do Centro-Sul e Nordeste do País. Cidades como Pirassununga (TMA da Academia da Força Aérea) e Anápolis, porém, também se destacam, devido ao alto número de voos militares. Veja o ranking nacional na infografia abaixo.

Fonte: CGNA


Modernização

Recentemente, os APP brasileiros vêm passando por um processo de reformulação que envolve a implementação de novas tecnologias e infraestruturas operacionais. Uma delas é o novo sistema de consoles radar – Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional (SAGITARIO). O recurso – que substitui a interface antiga,“X-4000” – emprega soluções inovadoras para o controle ao integrar uma série de dados e informações aeronáuticas numa mesma interface, desde antes da decolagem ao estacionamento da aeronave no aeroporto de destino.

Desenvolvido pela Atech (Grupo Embraer), numa parceria com a Força Aérea Brasileira, o SAGITARIO foi criado com a participação dos profissionais que atuam na linha de frente do controle aéreo e proporciona um conjunto de recursos operacionais de apoio à tomada de decisão, conforme recomendações dos organismos reguladores da aviação civil internacional.

Novo APP Salvador

Salão Operacional do novo APP-Salvador (Foto: Fábio Maciel)

O Controle de Aproximação de Salvador é um exemplo de APP recém modernizado. Desde de 28 de março, o centro, que já dispunha de um radar terminal, opera com o SAGITARIO. O novo APP foi construído em um salão operacional da nova sede do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Salvador. Completamente remodelado, o DTCEA está instalado ao lado do pátio do Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães, o mais movimentado do Nordeste. Na sala, cinco modernas consoles de tráfego aéreo estão dispostas em torno da mesa do Supervisor do Controle. Cada console aloca dois profissionais.

Controladores na nova console do APP-Salvador (Foto: Fábio Maciel)

A Área de Controle Terminal (TMA) de Salvador foi também completamente reformulada, inclusive sua área de extensão que agora atende às necessidades do moderno conceito de Navegação Baseada em Performance (ou PBN, Performance Based Navigation). O PBN viabiliza que as aeronaves realizem aproximação de alta precisão orientadas por satélites e não mais, somente,  por sinalizadores e balizadores VHF instalados no solo. Dentre os ganhos operacionais, destacam-se o maior número informações dispostas no console e agilidade nas ações rotineiras dos profissionais, identificando e informando situações de conflitos. Abaixo, a ARC Salvador, com a nova TMA da capital baiana, de formato não circular.

Nova TMA Salvador representada na Carta de Área ARC

Atualmente, dos 22 APP brasileiros com operação radar, 15 já utilizam as novas consoles do SAGITARIO. Ainda em 2017 estão previstas a modernização dos Controles de Aproximação de Porto Velho, Rondônia, e Cuiabá, Mato Grosso, que passarão a operar  com o SAGITARIO. Segundo o cronograma da Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo (CISCEA), a previsão é de que o SAGITARIO seja implementado em outros oito APP nos próximos dois anos, totalizando 25 Controles de Aproximação operando com sistema até o final de 2019.

 
 
 

 
 
Daniel Marinho
Editor/ Redator