Ao falarmos de controle de tráfego aéreo, normalmente a associação à torre de controle é imediata. Não é para menos, ela que salta aos olhos dos passageiros no aeroporto.
Ocorre que há bem mais coisas entre um pouso e uma decolagem do que se possa supor e uma delas é: a maior parte do controle aéreo não é exercido a partir de uma Torre, mas, sim, de outros órgãos menos famosos, como, por exemplo, o “Controle de Aproximação” (ou APP – Approach Control) e o “Centro de Controle de Área” (ou ACC – Area Control Center). Neste post, vamos falar sobre Controle de Aproximação (APP).
Portão de entrada e saída das aerovias
Em linhas gerais, APP (Controle de Aproximação) é um órgão operacional que presta os serviços de controle de tráfego aéreo basicamente em três ocasiões do voo:
- Após a decolagem, quando a aeronave inicia os procedimentos de subida que a levarão a uma aerovia (voo de cruzeiro).
- Antes do pouso, quando a aeronave deixa uma aerovia (voo de cruzeiro) para iniciar sua descida rumo a um aeródromo.
- Aeronaves que estejam em trânsito, cruzando o espaço aéreo sob a jurisdição de um APP.
Em outras palavras, excetuando os voos que somente cruzam a região, um APP lida com a fase intermediária entre a decolagem e o “voo de cruzeiro”, e, o caminho contrário, quando o avião precisa deixar a “estrada” (aerovia) para começar a descer.
Pois bem, este espaço intermediário tem nome. Na verdade, dois:
CTR (Control Zone) – Zona de Controle
Espaço aéreo que abrange as trajetórias dos procedimentos de aproximação e saída dos voos por instrumentos, envolvendo um ou mais aeródromos. A CTR possui, na maioria das vezes, um formato cilíndrico, desde o solo até uma altitude variável. São representadas nas chamadas Cartas de Área (ARC –Area Chart), disponíveis no Portal AISWeb.
TMA (Terminal Control Area) – Área de Controle Terminal
Situada em regiões de grande densidade de tráfego aéreo, geralmente ao redor de aeroportos importantes, a TMA é um espaço aéreo controlado que abrange os acessos (chegadas e saídas) às aerovias. É uma área mais ampla que a CTR (pode aliás conter uma ou mais delas), abarcando todos os procedimentos de chegada e saída dos aeródromos nela inseridos.
As TMA também têm limites laterais e verticais variáveis e podem ser visualizadas nas cartas ARC, disponíveis no Portal AIS Web. Para ilustrar observe, na figura abaixo, a ARC relativa à região de Belém, no Estado do Pará. O epicentro das demarcações em círculo é o aeroporto internacional da capital paraense Val-de-Cans – Julio Cezar Ribeiro. O segundo círculo menor corresponde à CTR-Belém, espaço aéreo circular de 28 Km de raio, do solo a 2.500 pés (726 m) de altitude, abrangendo a circunvizinhança do aeroporto.
Já o círculo maior, com cerca de 110 Km de raio, dos 2.500 pés (726 m) aos 14.500 pés (4.5420 m) de altitude, representa a TMA-Belém, espaço aéreo mais amplo que não abrange o solo. Reservado às subidas dos aviões após a decolagem, às aproximações para pouso ou, eventualmente, ao cruzamento de aeronaves que voam em baixa altitude na região..
E o que se faz dentro de um APP?
Um APP (Controle de Aproximação) presta os serviços de controle de tráfego aéreo e de informação de voo às aeronaves que voam dentro de uma TMA ou CTR. Este trabalho tem por objetivo:
- Manter as separações mínimas entre os voos estabelecidas pelo órgão regulador (DECEA) por critérios de segurança e eficiência.
- Disciplinar, acelerar e manter ordenado o fluxo de tráfego aéreo.
- Orientar e instruir as aeronaves na execução dos procedimentos de espera, saída e chegada, estabelecidos pelo DECEA.
Em condições ideais, o APP deve viabilizar às aeronaves que partem um rumo com o menor número possível de curvas, manobras e restrições até o nível de cruzeiro. Da mesma forma, a intenção é prover às aeronaves que chegam os procedimentos mais rápidos e simples.
A ordenação eficaz, segura e sustentável desses voos, porém, requer um monitoramento criterioso e em tempo real não só de aeronaves, mas das inúmeras variáveis que impactam essa circulação. Afinal, há uma conjunção de fatores, condições e protocolos a serem observados para um voo seguro. Fenômenos meteorológicos adversos, demandas de voo urgentes, situações de emergência, voos alternados, mudanças climáticas repentinas, aeroportos fechados para pouso e decolagem, redução ocasional de capacidade operacional, esteiras de turbulência… São inúmeras as contingências que podem impactar à aviação.
De todo modo, um APP lida com os procedimentos de navegação aérea básicos de uma TMA/CTR, tais como os de:
– Chegada por instrumentos – STAR – Standard Terminal Arrival
– Descida por instrumentos – IAP – Instrument Approach Procedure
– Saída por instrumentos – SID – Standard Instrument Departure
– Aproximação perdida MA – Missed Approach
É também sempre bom lembrar que, apesar do nome, o “Controle de Aproximação” atende naturalmente a qualquer aeronave em sua área de responsabilidade, estejam elas se aproximando do aeródromo ou não. Estas áreas (TMA ou CTR) costumam a ter como centro, o aeródromo mais movimentado de uma grande cidade ou capital que, então, empresta o nome a seu APP: APP-Belo Horizonte; APP-Manaus; APP-São Paulo; APP-Fortaleza; etc. Não à toa, todas as capitais das 27 Unidades Federativas do País (incluindo o DF) tem um APP para chamar de seu. Outras cidades, entretanto, que dispõem de uma concentração elevada de movimentos aéreos também dispõem do Controle.
No Brasil há atualmente 42 APP: 28 sob a responsabilidade do DECEA, 13 com a Infraero e 1 sob a responsabilidade da Marinha. Eles estão distribuídos em todo o Brasil e atuam sobre 40 Áreas de Controle Terminal (TMA) e 2 Zonas de Controles (CTR). Veja na figura abaixo, o mapa das TMA brasileiras.
Ao longo de todo o ano de 2016, mais de 2,5 milhões de voos passaram pelas TMAs brasileiras. Cerca de 1/3 desses voos couberam somente às duas TMA mais movimentadas do País: São Paulo e Rio de Janeiro. Em seguida vêm as grandes capitais do Centro-Sul e Nordeste do País. Cidades como Pirassununga (TMA da Academia da Força Aérea) e Anápolis, porém, também se destacam, devido ao alto número de voos militares. Veja o ranking nacional na infografia abaixo.
Modernização
Recentemente, os APP brasileiros vêm passando por um processo de reformulação que envolve a implementação de novas tecnologias e infraestruturas operacionais. Uma delas é o novo sistema de consoles radar – Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional (SAGITARIO). O recurso – que substitui a interface antiga,“X-4000” – emprega soluções inovadoras para o controle ao integrar uma série de dados e informações aeronáuticas numa mesma interface, desde antes da decolagem ao estacionamento da aeronave no aeroporto de destino.
Desenvolvido pela Atech (Grupo Embraer), numa parceria com a Força Aérea Brasileira, o SAGITARIO foi criado com a participação dos profissionais que atuam na linha de frente do controle aéreo e proporciona um conjunto de recursos operacionais de apoio à tomada de decisão, conforme recomendações dos organismos reguladores da aviação civil internacional.
Novo APP Salvador
O Controle de Aproximação de Salvador é um exemplo de APP recém modernizado. Desde de 28 de março, o centro, que já dispunha de um radar terminal, opera com o SAGITARIO. O novo APP foi construído em um salão operacional da nova sede do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Salvador. Completamente remodelado, o DTCEA está instalado ao lado do pátio do Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães, o mais movimentado do Nordeste. Na sala, cinco modernas consoles de tráfego aéreo estão dispostas em torno da mesa do Supervisor do Controle. Cada console aloca dois profissionais.
A Área de Controle Terminal (TMA) de Salvador foi também completamente reformulada, inclusive sua área de extensão que agora atende às necessidades do moderno conceito de Navegação Baseada em Performance (ou PBN, Performance Based Navigation). O PBN viabiliza que as aeronaves realizem aproximação de alta precisão orientadas por satélites e não mais, somente, por sinalizadores e balizadores VHF instalados no solo. Dentre os ganhos operacionais, destacam-se o maior número informações dispostas no console e agilidade nas ações rotineiras dos profissionais, identificando e informando situações de conflitos. Abaixo, a ARC Salvador, com a nova TMA da capital baiana, de formato não circular.
Atualmente, dos 22 APP brasileiros com operação radar, 15 já utilizam as novas consoles do SAGITARIO. Ainda em 2017 estão previstas a modernização dos Controles de Aproximação de Porto Velho, Rondônia, e Cuiabá, Mato Grosso, que passarão a operar com o SAGITARIO. Segundo o cronograma da Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo (CISCEA), a previsão é de que o SAGITARIO seja implementado em outros oito APP nos próximos dois anos, totalizando 25 Controles de Aproximação operando com sistema até o final de 2019.
Daniel Marinho
Editor/ Redator
Parabéns pela matéria, Daniel!
Obrigado, Barbosa. Às ordens!
muito bosa iniciativa das ffaa estamos bem representado para 3 Guerra Mundial.
Parabéns pela excelente matéria! Tenho grande admiração por todos os que cuidam tão bem do espaço aéreo brasileiro.
Eu costumo acompanhar de perto a movimentação e escuta do tráfego aéreo no meu site http://www.radarboxbrasil.com usando a tecnologia ADS-B.
Gostaria de saber quando outras áreas terão o ADS-B?
Obrigado, Renato! Em breve postaremos um novo material sobre o cronograma da implementação do ADS-B pelo DECEA. Por ora, estamos com o ADS-B da Bacia de Campos (TMA- Macaé) e o ADS-C cobrindo toda a FIR-Atlântico. Mantenha contato!
Muito boa a matéria. Conteúdo muito completo e didático com imagens muito bem elaborada. Parabéns!
Deixo uma sugestão de elaborarem uma postagem explicando como funciona um APP-Convencional (Não Radar). Muitos pilotos até hoje não sabem como é o funcionamento destes órgãos.
Apenas para informação, no mapa das TMA’s e na planilha de movimentos, não aparece uma das mais importantes Terminais do BRASIL, conhecida como TMA Marabá.
Rsrs Estamos cientes da Terminal Marabá, Cledson! Na verdade, o APP – Marabá é tão recente que ainda nem constava dos registros que usamos como fonte.
Fomos atrás do operacional do CINDACTA IV para buscar mais informações. Não à toa, ele está inserido nesta bela infografia criada pela nossa designer, Aline Prete, onde estão dispostos os 42 APPs brasileiros. Porém, a TMA ainda não estava efetivada na ocasião da produção do mapa das TMAs…
Mas em breve vamos atualizar este mapa. Bom saber que há um bravo guerreiro zelando por Marabá!
Abraços
A foto da TMA-SP está desatualizada.
Sim, Gabriel. Essa foto da visualização radar da TMA-SP é ilustrativa e tem por intuito auxiliar a compreensão do texto.
Não teríamos como enviar um profissional a São Paulo somente para fazer a imagem da visualização atual.
Aliás, estamos abertos à colaborações do público caso alguém tenha uma boa imagem da visualização radar da TMA mais movimentada do País. É só entrar em contato pelos comentário do Blog que publicamos com o crédito do fotógrafo! Alô, CTAs!
eu tenho uma que posso te mandar em jpg, como faço?
Obrigado, Tadeu. Sua imagem já foi recebida e postada.
Volte sempre!
Gabriel, conseguimos uma imagem atualizada com as TMAs e CTRs do chamado “tubulão”!
Obrigado pela participação e volte sempre!
Minha nossa, não sabia que se tratava de tantos detalhes.
Att,
Mateus Soares
Excelente matéria!
Teria intenção de nova matéria sobre ILS e implementação de tecnologias em aeroportos de grande e médio porte. O Brasil ainda existe alguns aeroportos de médio e grande porte que ainda não tem essa tecnologia. O que é nesscessario para essa implantação do ILS nesses casos?
Obrigado.
Excelente matéria! Faltou apenas um breve relato das Operações Paralelas Simultâneas Independentes, realizadas em Brasília. Grande abraço a todos.
Nós temos este relato, Wilson! Publicamos um material especialmente dedicado a estas operações quando elas iniciaram em Brasília.
Dê uma olhada neste link:
https://www.decea.gov.br/blog/?p=134
E muito obrigado pela sua participação!
Não sabia que era tão complexo, são muitos detalhes. Mas, de fato, é necessário por se tratar de algo relacionado a vida de centenas de pessoas.
Bjos,
Mariana Silva
very good
Finalmente ja sei sobre o que será meu trabalho de conclusão. Esse artigo vai me ajudar muito e não vou esquecer de cita-lo como fonte.
Que maravilha, Carlos! Pode contar com o Blog SobreVoo no que precisar. Obrigado.
Não é minha área mas esse artigo está muito bom!
parabéns
Olá Daniel, parabéns pela matéria.
Ontem (02/01/2019) presenciei um fato que me deixou com dúvidas. Estava trafegando na Av. Luis Eduardo (Paralela) em Salvador, quando eu e minha esposa nos deparamos com um avião de grande porte que estava a menos de 5km em aproximação da pista do Aeroporto Internacional Luiz Eduardo Magalhães, e, fez uma manobra de curva acentuada à direita, saindo da trajetória, fazendo uma curva em 360º e retomando o trajeto de pouso em baixíssima altitude. Levamos um grande susto, pensando que o mesmo iria cair.
Não deu para filmar, pois foi muito rápido e ficamos sem ação.
Esse tipo de procedimento pode ser considerado normal?
Caro Alessandro
Ainda que precisasse de mais detalhes, ao que parece você testemunhou uma aeronave em “órbita de espera” de um procedimento de aproximação para pouso na cabeceira 10 do Aeroporto Internacional de Salvador.
Órbitas de Espera, também simplesmente chamadas de esperas, são trajetórias pré-desenhadas em cartas aeronáuticas (mapas) para, em face de alguma necessidade, estender o tempo de voo de uma aeronave. Nesse caso, especificamente, atrasar o pouso.
Este recurso ajuda a manter uma separação adequada entre as aeronaves e viabiliza, quando necessário, um reordenamento do fluxo do trafego aéreo quando este aumenta repentinamente, ou em face de algum imprevisto ocorrido no aeródromo, por exemplo.
Qualquer coisa, estamos a bordo!
Obrigado pela participação
Ótimo artigo. Nos mostra o quão importante é o controle de tráfego aéreo.
Obrigado, Frank. Estamos à disposição.
Como “velho Controlador”, da epoca do “Controlador de Vôo” e não CTA, comecei em 1972 em Recife. La não tinha radar algum e não falavamos direto com o Senegal, area subsequente para os vôos a Europa. Em 1973 fui para a Base de Santa Cruz RJ e depois APP Galeão em 1979, onde só havia radares ASR7. Nada de computação direta ao Controlador.
Bem complexo, mas já era de se imaginar. Um trabalho bem importante que precisa ser feito com muita atenção. Show de bola.
Obrigado, Marcos. Caso seja de seu interesse receber nossa newsletter, é só assiná-la gratuitamente na coluna ao lado. Estamos na escuta.
Parabéns Daniel pelo seu excelente trabalho! Artigo muito bom.
Obrigado, João. À disposição.
Estou amando seus artigos! parabéns
Obrigado, Calene. Não esqueça de assinar gratuitamente a newsletter do SobreVoo. Qualquer coisa, à disposição.
Esses profissionais merecem um premio, nossa e muita responsabilidade!!!
cursoconsertodecelularriodejaneiro
Isso sim é uma matéria completa, maravilha demais!
QUE ótimo artigo estão de parabéns
Gostei demais deste artigo! Meus Parabéns.
Obrigado, Roger. Seja bem-vindo! Fique á vontade, caso queira assinar para receber gratuitamente os artigos do blog.
Parabéns pelo artigo, conteúdo muito bem elaborado e de ótima qualidade.
Obrigado, Paula! Na escuta!
Parabéns pela matéria Daniel Marinho, excelente conteúdo parabéns.
Bjos
Anny
Great article!
Ótimo artigo. Parabéns pela matéria, Daniel!
Obrigado, Rone! Volte sempre!
Há alguns anos atrás vi uma reportagem sobre esses profissionais e fiquei espantado com tamanha responsabilidade. Esse profissional realmente merece muito reconhecimento.
Verdade, pedro. Eles merecem, mesmo!
[…] aos Centros de Controle de Área (ACC – Área Control Center) dos três países, bem como ao Controle de Aproximação (APP – Approach Control) colombiano de Letícia e ao AFIS […]