Conheça o glossário trilíngue dos termos técnicos de aviação

Por Glória Galembeck

Em janeiro de 2009 o piloto Chelsey Sullenberger, Comandante do voo 1549 da US Airways, pousou no Rio Hudson após ter uma pane nos dois motores provocada pela colisão com pássaros, minutos depois de ter decolado do aeroporto La Guardia, em Nova Iorque. Todas as 155 pessoas a bordo sobreviveram e o acidente foi descrito pela imprensa mundial como “um milagre”. A história foi contada no livro Sully: o herói do Rio Hudson (Editora Intrínseca), e virou um longa-metragem. O livro, assim como o filme, lançado em 2016, é repleto de termos técnicos que explicam os problemas apresentados pela aeronave e os procedimentos adotados por Sullenberger e pelo copiloto para tentar um pouso de emergência na água.

Tradução de Sully: o herói do Rio Hudson do inglês para o português utilizou o glossário especializado de aviação
Tradução de Sully: o herói do Rio Hudson do inglês para o português utilizou o glossário especializado de aviação

Termos técnicos relacionados à aviação e às leis da física que permitem o voo do mais pesado que o ar também não faltam no desenho animado Thunderbirds , exibido no canal por assinatura Gloob. A animação é um remake de uma série de ficção científica infanto-juvenil britânica que foi ao ar nos anos 1960 e narra as missões internacionais de uma organização secreta. Espaçonaves, foguetes e até uma estação espacial compõem o arsenal dos cinco irmãos Tracy, protagonistas de Thunderbirds, que se passa em 2060.

A tradução de obras que incluem expressões e conceitos inerentes a uma determinada área do conhecimento é um desafio, pois requer fontes técnicas para consulta. No caso da aviação, essas fontes são escassas e, muitas vezes, é preciso pagar por elas. Como ter a certeza de que a tradução do nome de peças e componentes das aeronaves é feita de maneira fidedigna, se o universo da aviação extrapola o conteúdo dos dicionários convencionais? Os leitores de Sully e os espectadores de Thunderbirds podem não fazer a mínima ideia, mas as traduções para o português dessas duas obras contaram com uma preciosa ajuda de especialistas do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Desde 2013 está disponível na web, gratuitamente, uma base de dados que, atualmente, conta com cerca de 15 mil verbetes e siglas em inglês, português e espanhol. A iniciativa – uma espécie de aeropédia que contém definições e traduções de termos de aviação – surgiu na ANAC e, desde 2014, tem a colaboração de tradutoras do DECEA, que contribuem com termos da área de controle de tráfego aéreo.

São seis dicionários que constituem fontes seguras de referências terminológicas e linguísticas na área de aviação: inglês–português, espanhol – português, inglês – espanhol, siglas em inglês, siglas em português e um dicionário de aviação exclusivamente em português.

Para cada termo há uma ficha com a tradução do verbete para o idioma selecionado, que pode conter, além da definição, sinônimos, termos relacionados, uma ou mais fontes de referência, contextos de uso, subárea a qual o termo pertence e a imagem que ilustra o que é descrito. A inclusão dos termos relacionados permite que o pesquisador estenda a sua busca a termos e conceitos que tenham uma relação direta com a sua pesquisa, mas que eram desconhecidos até então.

Ficha de “sistema de aeronave remotamente pilotada”, RPAS, na sigla em inglês
Ficha de “sistema de aeronave remotamente pilotada”, RPAS, na sigla em inglês

A base de dados utilizada para pesquisar as definições e traduções é formada por documentos técnicos de órgãos como a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), Federal Aviation Administration (FAA), Eurocontrol, DECEA, ANAC, Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e publicações especializadas em aviação nacionais e estrangeiras. No link “Corpus”, o usuário encontra a relação das fontes consultadas com mais de 1,3 mil itens.

A ficha da sigla “AGA”, usada para tratar de aeródromos, tem como fonte OACI e DECEA
A ficha da sigla “AGA”, usada para tratar de aeródromos, tem como fonte OACI e DECEA

Não são apenas os profissionais da tradução que utilizam essa base. A equipe de gestores da ANACpédia, nome oficial do glossário, identificou uma lista dos profissionais que mais acessam os dicionários. Advogados lideram o ranking, seguidos por administradores aeroportuários, aeromodelistas, aeronavegantes / aeroviários e arquitetos. A relação inclui profissões distintas como profissionais de call center, do setor hoteleiro, bancários, jornalistas, a até escoteiros em busca de uma fonte segura de informações sobre aviação.

A iniciativa está inscrita no Concurso Inovação na Gestão Pública Federal 2017, promovido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), vinculada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que destaca as boas práticas no serviço público.

Assim como a aviação está em constante desenvolvimento, a língua é uma área em permanente evolução e passa por mudanças decorrentes de seu uso. Por essa razão, a ANACpédia não pode ser considerada uma obra acabada, está em aprimoramento para oferecer, aos interessados em aviação, as definições mais confiáveis sobre o universo complexo de que trata.

Acesse já a ANACpédia

Glória Galembeck
Jornalista